Quem é Lilith? Deusa ou Demônio? Conheça essa divindade!

Lilith é uma divindade polêmica. Por muitos é considerada uma Deusa e por outros, mais assustados com sua presença, é considerada um demônio.

Mas quem é Lilith? Qual a história dessa mulher que causa polêmica há mais de 2000 anos sempre que é mencionada?

Vamos conhecer melhor sua história e seu arquétipo neste post. Para o aspecto arquetípico dela, leia o artigo Arquétipo Lilith.

Você também pode ver o vídeo abaixo e se inscrever em nosso canal no YouTube!

Lilith quem é essa mulher

De onde vem Lilith?

Antes de começarmos conhecer melhor Lilith, vamos entender de onde ela vem e porque eu ela tem essa “natureza” sombria.

Lilith faz parte da Mitologia Judaica. Sendo assim ela faz parte de um contexto onde tudo é maniqueísta.

E o que é ser maniqueísta?

É ser A ou B. Ou seja:

  • alguém é totalmente bom – e suas atitudes negativas são justificadas;
  • ou alguém é totalmente mau – e tem suas atitudes positivas ignoradas.

Não há dualidade e nem equilíbrio num único ser. 

Junto a ela nós temos vários outros nomes “famosos” e importantes como Deus, o criador; Moisés; a hierarquia Angelical e os Arcanjos Gabriel, Rafael, Miguel e Uriel, por exemplo e muitos outros.

Notou um detalhe? Dos poucos nomes que citei, todos são do gênero masculino tem grande poder criador ou destruidor.

Aí que se encontra (ou se esconde) um detalhe importante… A literatura Judaica é muito detalhada e hoje nós ainda estamos muito bem inseridos nesse universo.

São vastos os textos e as referências relacionadas a estes nomes. Temos muitos detalhes mesmo!

E em todos esses detalhes nós não encontramos nenhuma mulher que tenha grandes poderes sobrenaturais.

Não há uma referência a uma mulher capaz de “peitar” um anjo ou até mesmo Deus.

Mas nós sabemos que ela existe. E sua história permanece viva após tantos anos, mesmo tendo sido removida de todos os registros.

Por que isso acontece?

Porque ela tem esse poder. Lilith é a única mulher, dentro deste contexto, que pode desafiar o próprio criador.

O poder dela é tão grande e assustador para quem crê no criador que em existe em Israel uma tradição de proteger recém nascidos com um amuleto para que ela não os pegasse enquanto dormiam.

Amuleto de proteção contra Lilith contendo as iniciais SSS
Amuleto de proteção contra Lilith contendo as iniciais SSS

Então fica a dúvida: A “não presença” de Lilith nos textos “sagrados” mais recentes foi proposital ou acidental?

Desmistificando Lilith

Além de sua natureza sombria, Lilith também “enfrenta” um outro problema.

Ela normalmente é confundida com outra divindade e tem suas origens “forçadas” em diferentes lugares.

Embora tenhamos algumas referências a um demônio na Epopeia de Gilgamesh, escrita nos tabletes de Barro na Mesopotâmia, que se chame Lili, é bem rasa a conexão entre essa Lili com a Lilith da qual estamos falando.

Este tema já foi muito debatido por historiadores e a conclusão que chegaram é a de que foi um erro de tradução chamar de Lili, o demônio que toma conta da raiz de árvore plantada por Inanna, de Lilith, a primeira mulher na obra judaica.

E mais. Essa imagem aqui, chamada de Rainha da Noite, que muitos atribuem à Lilith, não representa Lilith.

Não sou a Lilith - Diz Inanna ou Ereshkigal
Não sou a Lilith!

A ideia inicial de que essa imagem a representava foi por causa de uma tradução dos textos dos tabletes de barro. Até hoje existe uma discussão sobre quem exatamente está representada aqui, e essa discussão é entre Inanna/Ishtar ou a irmã dela, Ereshkigal.

Não é Lilith.

Aliás tem um texto excelente sobre o que sobrou da antiga Babilônia, interpretações e tal e a discussão sobre a Rainha da Noite, que você pode ler em inglês aqui.

Portanto, vamos deixar de lado essa referência na mitologia mesopotâmica, babilônica e suméria e focar nessa Lilith, a primeira mulher, a Deusa, a Demônia.

Lilith – A primeira mulher e primeira esposa de Adão

Então Lilith é a primeira mulher.

Deus, o criador, primeiramente criou Adão e em seguida criou Lilith.

Os dois foram criados de forma semelhante e, por isso, deveriam ter o mesmo tratamento.

É dito que Adão propôs sexo à Lilith e que ela aceitou numa boa. Contudo, durante a relação, Adão quis ficar por cima e ela se negou a ficar por baixo.

O simbolismo implícito nessa história é o de que Adão se sentia superior e dominante e ela não se sentia inferior e não desejava ser dominada.

Pois bem, Lilith reclamou e disse que havia sido feita do mesmo material que Adão, portanto eles eram iguais. Adão ficou chateado e não aceitou a postura dela que, enfurecida, começou a reclamar.

Nessa reclamação, ela usou o nome de Deus e Adão ficou em estado de choque, expulsando Lilith.

Lilith - pintura de John Collier 1886 censurado
Lilith – pintura de John Collier 1886 censurado

Porém, tem uma outra versão que diz que Lilith enganou Deus para aprender o nome secreto dele e, assim que aprendeu, também obteve o dom da magia, criando longas asas e voando para um deserto no oeste.

Essa versão se assemelha aos feitos de Ísis ao enganar Ra e Oxum ao enganar Exu.

Adão solicitou à Deus que trouxesse Lilith de volta e que ela se redimisse para que tudo ficasse bem.

Deus então enviou 3 anjos para procurarem por ela: SSS (que são Senoy, Sansenoy and Semangelof).

Os três a encontraram no Mar Vermelho onde ela já estava com diversos filhos, todos “demoníacos”.

Eles pediram para ela voltar sob ameaça de ser expulsa do paraíso e de ter 100 de seus filhos mortos por dia.

Lilith não ligou para as ameaças e acabou sendo expulsa do paraíso e viu seus filhos serem perseguidos e mortos.

É aí que Eva é criada, para fazer cumprir o papel de submissão e sofrimento.

Conforme citado nesta linda passagem de Gênesis em que Deus, o criador, se dirige à mulher:

À mulher, ele declarou:

“Multiplicarei grandemente
o seu sofrimento na gravidez;
com sofrimento você dará à luz filhos.
Seu desejo será para o seu marido,
e ele a dominará”.

Gênesis 3:16

A vingança de Lilith

Lilith então fica tomada pelo ódio e pelo sentimento de vingança.

A partir daí, ela começa uma jornada incansável para matar recém nascidos e mulheres que tenham filhos sem serem casadas (pensamento bem machista, mas que impunha medo).

Desse momento em diante, ela passa a, literalmente, representar o medo em si.

Lilith se torna sinônimo do ódio, da raiva e da vingança.

Mas, sejamos sinceros, se alguém ameaçasse matar seus filhos só porque você quis ser livre… como você reagiria?

É interessante que essa história dela mostra que ela teve milhares de filhos, mas não fala dela espalhando o terror “de graça” até o momento em que ela é “oficialmente” expulsa do “paraíso” e os seus filhos começam a morrer.

Lilith e Eva - pintura de Yuri Klapouh (censurado)
Lilith e Eva – pintura de Yuri Klapouh (censurado)

Símbolos de Lilith

Tudo o que é notuno é relacionado à Lilith:

  • A coruja que voa na escuridão e mata suas presas;
  • a cobra que rasteja sorrateiramente e mata sua presa;
  • a noite em si e todos os medos e dúvidas que a cercam.

Só que, basta mudar a perspectiva que, esses mesmos símbolos trazem outros significados como:

  • A coruja que é extremamente independente e observadora. Sabe exatamente a hora de atacar para dar um único ataque certeiro e poder se alimentar;
  • O mesmo vale para a cobra que analisa a situação e percebe tudo o que está a seu redor, sem precisar enxergar bem para isso. Quando ataca, geralmente é um único ataque;
  • E as dúvidas, os medos… a sombra que todos temos dentro de nós. Lilith simboliza justamente isso.

Quando domamos a “nossa Lilith”, nos libertamos, assim como ela se libertou do que não servia para ela.

Se mudarmos a narrativa e dissermos que ela era prisioneira de um sistema escravagista e, ela sozinha encontrou uma saída e fugiu, tudo ganha um novo sentido.

E em seguida ela recebe uma intimação para voltar sob a pena de ter seus filhos mortos. Mesmo assim ela se recusa e mantém sua posição firme.

É disso que falamos quando nos conectamos com Lilith.

A coragem para enfrentar o que nos aprisiona. A ousadia para nos libertarmos de tudo que não nos serve. A certeza de que temos a força dentro de nós para fazer o que desejarmos.

Compreendendo e aceitando a Lilith como ela é – e não como outros desejam que ela seja – mostra que ela é uma das mais fortes e ousadas Deusas das quais temos conhecimento.

A Maldição de Deus - Pintura de James Tissot
A Maldição de Deus – Pintura de James Tissot

Obrigado por ler! Visite também meu Canal no YouTube e se inscreva para receber atualizações pelo Telegram ou por Email.

7 comentários em “Quem é Lilith? Deusa ou Demônio? Conheça essa divindade!”

  1. Parabéns!! Adorei o texto, as interpretações e posturas!
    Engraçado que nesse último mês vi uma coruja linda na minha janela, que olhou para mim fixamente, e depois se lançou ao ar com as asas bem abertas. Eu fiquei encantada…agora, joguei o tarô da Deusa para representar meu ano, e adivinha quem saiu? Por isso estou aqui. rs

    Grata!

    Responder
  2. Um dos poucos textos que fala a realidade sobre ela.
    Apenas quem a conhece sabe como ela age e sua presença é forte
    e até hj nenhuma foto ou imagem que falam ser dela
    é ela de fato pois ela se mostra apenas se ela quiser e
    muitos se surpreenderiam ao vê-la…

    Responder
  3. Saudações. Apesar de certos aspectos positivos em seu artigo, eu gostaria de propor algumas reflexões. Eu sou um estudioso da Bíblia e posso afirmar que essa descrição de Lilith não existe em parte alguma da Bíblia!
    Não há “duas criações” no livro de Gênesis. Acontece que o primeiro capítulo é dedicado aos sete dias da criação, por isso a referência à criação de Adão e Eva também é, como as demais criações, suscinta: “então Deus determinou: façamos o ser humano, à nossa imagem e semelhança […] à imagem de Deus os criou: macho e fêmea os criou” (Gn 1:26-27). No segundo capítulo são detalhados os pormenores de tudo o que foi criado, e não somente a humanidade. Assim, fica claro no verso 4 que Deus “deu início à humanidade no tempo em que Deus criou o céu e a terra”, e no verso 5 explica que ainda “não havia homem para cultivar o solo”, e só então, no verso 7, vem os detalhes de como “o Senhor modelou do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente”, o que deixa claro, portanto, que não havia ninguém antes de Adão e Eva. Como a criação de um casal é citada no primeiro capítulo e detalhada no segundo, é no mínimo curioso não ter aparecido alguém para dizer que foram criados dois homens, um no primeiro e outro no segundo capítulo de Gênesis. De fato, se essa lenda tivesse respaldo no relato bíblico, tudo o que foi criado nas citações do primeiro capítulo seria duplicado nas descrições do segundo de Gênesis. Uma leitura muito breve, de apenas duas páginas da fonte primária, é suficiente para dirimir tais equívocos. Você deve deixar claro que essa associação de Lilith com uma suposta primeira mulher de Adão trata-se de uma tradição tardia, influenciada pelo cativeiro babilônico dos judeus – c. 609-538 a.C. – que durou por volta de setenta anos. Lilith é uma criatura noturna, demoníaca, que já aparece em lendas sumérias por volta de 3000 a 2000 a.C. (Epopeia de Gilgamesh; A Árvore Huluppu), portanto 1500 anos ates da narrativa do Gênesis. Muitos a viam como “a prostituta do templo de Isthar”, um demônio feminino belíssimo, que causava a queda dos homens através da sedução. No textos bíblicos, o seu nome aparece somente uma vez, em Isaías 43:14, que fala de “criaturas noturnas” ou “animais da noite” que “repousarão” na terra devastada, pois muitas vezes ela era tida como uma criatura alada. Algumas versões da Bíblia chegam a traduzir tais criaturas noturnas em Isaías 43 por “fantasmas” ou “espectros”, mas nenhuma faz referência a um ser humano. Ademais, como a primeira mulher de Adão (no livro de Gênesis) reapareceria dois mil anos depois (no livro de Isaias)? Espero ter ajudado.

    Responder
    • Alexandre não e uma tradição tardia amigo, esses textos antigos datam de bem antes de seu antigo testamento ser escrito, tanto de textos antigos considerados apócrifos que não fazem parte do cânon da bíblia e extenso, o fato de lilith não ser citada e para que não sirva de exemplo contra o patriarcado estrutural fortalecido pela bíblia, e eu não vejo porque alguém seria estudioso da bíblia se não um devoto da religião, portando isso descredibiliza sua declaração, sabendo que sua verdade pende para suaas cresças.

      Responder

Deixe um comentário