Caça às Bruxas – Uma triste realidade

É trágico. Não é um assunto agradável de se tratar, mas os fatos que serão aqui apresentados são manchas presentes em nossa história. A partir do momento em que os cultos à Deusa e à Natureza foram suprimidos e substituídos por cultos onde havia um único deus intocável e soberano que puniria seu povo por agir de forma “errada”, começamos a ver a propagação de sentimentos de ódio, de rejeição e de repúdio, bem diferente do amor compartilhado entre pessoas, animais e a Natureza em seu todo na religião da Deusa.

Uma vez que as pessoas se abriram para este sentimento de ódio, por ele foram consumidas. Chegou-se a um ponto onde qualquer outra pessoa que levasse um estilo de vida diferente, adorasse à Natureza ou a alguma Deusa ou Deus pagão, deveria ser punida. Quem mais sofreu com esta perseguição foram as Bruxas, mulheres que viviam em harmonia com todos os seres, extraíam de plantas as curas para diferentes doenças e etc.

Caça as bruxas uma triste realidade

Bruxas: Atrocidades, mentiras, tortura e perseguição

A caça às Bruxas foi tão forte que criou-se um arquétipo maligno para elas, perdurando até hoje. Dentre as atrocidades causadas contra estas mulheres e as mentiras criadas para que fossem perseguidas e mortas, estão as seguintes:

  • Contos e histórias inventados durante a Idade Média contra as mulheres curandeiras, benzedeiras e parteiras descrevem vários tipos de bruxas, sendo o mais comum o da mulher que possuía poderes malignos. Segundo estes contos (criados para facilitar a dominação romana de territórios, usando como álibi a nova religião criada a partir de ícones masculinos como o deus e o Cristo, subjugando as mulheres e seus poderes junto à natureza) as bruxas podiam ter qualquer idade, as mais velhas e feias eram chamadas de mocréias. Mas nem todas as bruxas eram más, é o que dizem algumas histórias desta época, as bruxas conhecidas como feiticeiras, ou bruxas brancas, eram as que também conheciam ervas e poções usadas para a cura, embora todas elas tenham sido caçadas como animais peçonhentos e atiradas ao fogo – já que representavam ameaças à nova religião que vinha dominando o mundo, o Cristianismo – como se sabe;
    Queima de Três Bruxas
    Queima de Três Bruxas em Baden, por Johann Jakob Wick em 1585
  • Coisas estranhas eram feitas pelos supersticiosos para se proteger e evitar que seus lares fossem atacados por bruxas. Por exemplo, eles enchiam garrafas feitas de argila com urina humana, fios de cabelo, pedaços de unha e limalha de ferro. Essas “garrafas de bruxas” eram enterradas no chão e acreditava-se que tinham o poder de quebrar sortilégios. Ferraduras também eram penduradas nas casas com as pontas viradas para baixo, assim as bruxas e outras criaturas malignas sempre cairiam e nunca conseguiriam entrar no lugar. Pequenas pedras que possuíam buracos, conhecidas como “haggstones” ou “pedras de bruxas” eram penduradas em torno das casas, acreditava-se que isso impedia as bruxas de entrarem nos lares;
    Haggstone - pedra da Bruxa
    Exemplo de uma “Haggstone”
  • Dizia-se que as bruxas controlavam o clima. Elas causavam tempestades. No mar elas derramavam o conteúdo de seus caldeirões na água e também afundavam navios, atirando raios neles. Na terra, dizia-se que elas também provocavam danos às plantações com suas tempestades. Elas prendiam o vento no cordão de nós que possuíam e causavam tempestades quando os desatavam. Esse poder de destruir era conhecido como maldição, se uma bruxa queimasse o corpo de um sapo ou de uma cobra até transformá-los em cinzas e as jogasse num campo, nada mais cresceria ali.
    Tempest de Shakespeare, por Nicholas Rowe
    Tempest de Shakespeare, por Nicholas Rowe
  • As pessoas acreditavam que as bruxas podiam voar. Elas faziam misturas mágicas, como óleos corporais e pomadas que lhes davam o poder de voar. Sangue de morcegos e plantas venenosas eram misturados num caldeirão até se transformarem em pomada de feiticeira, elas passavam essa pomada na pele, nas vassouras, nas pás, nos tridentes e no dorso de alguns animais. Tudo o que fosse tocado por essa pomada mágica ganhava o poder de voar. Nas lendas, elas voavam pelos céus com vassouras voadoras. É difícil dizer como esta história nasceu, talvez tenha surgido pelo costume que as mulheres tinham de manter a vassoura do lado de fora da casa toda vez que estivessem ausentes, para avisar que tinham saído. Isso bastava para os supersticiosos acreditarem que elas usavam as vassouras para voar (o que logicamente não faz nenhum sentido já que a pessoa tinha saído e a vassoura tinha ficado!).
    Bruxas Voando para o Sabbat, por Bernard Zuber 1926
    Bruxas Voando para o Sabbat, por Bernard Zuber 1926
  • Dizia-se que toda bruxa tinha, pelo menos, um familiar ou ajudante maligno, dados pelo demônio ou comprados de outra bruxa. Os familiares eram considerados ferramentas utilizadas pelas bruxas e tinham formas animais: gatos pretos, cachorros gordos, coelhos igualmente gordos, furões, sapos e corujas eram os mais comuns, mas até mesmo um ser pequeno, como uma mosca poderia ser ajudante de bruxa. As bruxas tratavam com grande cuidado seus familiares, pois eram animais de estimação muito amados. Houve um tempo na Europa em que os gatos pretos eram caçados e mortos, pois se acreditava que eles fossem o próprio demônio. Voltando aos animais, estes familiares eram bem vindos em casa, alimentados e tratados com carinho, todo familiar era um ajudante inteligente que tinha prazer em seguir as instruções da bruxa. Na maior parte do tempo eles agiam como espiões, levando informações importantes à elas. Em troca de serviços prestados à bruxa, um familiar gostava de ganhar leite ou sangue. O melhor sangue era o da própria bruxa, ela fazia um furo no dedo para que sangrasse e o familiar bebia o precioso líquido. Algumas vezes o animal poderia beber sangue de algum outro ponto do corpo, deixando uma marca reveladora na bruxa, que todos poderiam ver.
    Familiares da Bruxa
    Familiares da Bruxa, de 1579
  • Ainda segundo estas histórias as bruxas tinham marcas de bruxa, que facilitavam o reconhecimento delas. Os sinais mais óbvios eram uma cicatriz, uma verruga ou uma pinta na pele. Dizia-se que estes sinais surgiam em pontos onde os familiares da bruxa haviam sugado seu sangue fortemente, a ponto de deixar a pele marcada. Assim, pessoas com marcas de nascença tinham bastante trabalho em escondê-las, caso fossem acusadas de bruxaria. Elas cobriam as marcas ou até as cortavam fora, mas isso criava uma cicatriz, que também era considerada marca de bruxa. Se a pessoa fosse acusada de ter uma marca de bruxa, o passo seguinte seria perfurá-la com uma agulha ou alfinete. Acreditava-se que a marca da bruxa era imune a ferimentos. Se não sangrasse, a pessoa era considerada bruxa e ia a julgamento. Contudo, se houvesse sangue, a pessoa era inocentada e solta.
    O exame da Bruxa, por Tompkins Harrison Matteson em 1853
    O exame da Bruxa, por Tompkins Harrison Matteson em 1853
  • Nadar ou afundar era outro método para comprovar se uma pessoa era realmente uma bruxa. Ela era amarrada de uma maneira específica, com o dedão do pé direito preso ao do pé esquerdo, e jogada num rio ou lago, ou seja, submersa na água por alguns minutos. Se flutuasse, isso seria considerado sinal de culpa, pois o demônio a estaria ajudando a sobreviver. Caso afundasse, ela era inocentada. Infelizmente, se a pessoa não fosse retirada da água em tempo, ela morria afogada. Assim também era usado o sal para detectar uma bruxa. Imaginava-se que as bruxas não poderiam comer nada salgado, portanto, aos acusados era dada comida salgada. Se eles engasgassem ou enjoassem, isso era entendido como um sinal de bruxaria.
    Teste para saber se a mulher era ou não Bruxa
    Teste para saber se a mulher era ou não Bruxa
  • Entre 1450 e 1650, ou seja, durante duzentos anos, encontrar bruxas era um grande negócio na Europa. Foi nesse período que a crença no sobrenatural atingiu seu ápice. A prática da caça às bruxas foi mais intensa na Alemanha, mas, em meados do século XVII, ela se espalhou pela Inglaterra. Em 1487 foi publicado na Alemanha o livro Malleus Maleficarum, que significava “Martelo das Bruxas”, em latim. Traduzido em vários idiomas, tornou-se um manual best-seller que descrevia como as bruxas agiam, como se podia reconhecê-las e como elas deviam ser punidas. Esse livro fez com que milhares de pessoas fossem julgadas e acusadas de bruxaria.
    Edição de Malleus Maleficarum de 1669
    Edição de Malleus Maleficarum de 1669
  • As pessoas acusadas de bruxaria eram submetidas à terríveis formas de tortura (Witch Trials). Elas eram torturadas para que admitissem, à força, que eram bruxas. Elas eram açoitadas ou esticadas por instrumentos até sentirem que seus membros seriam arrancados. Os polegares eram colocados num aparelho, e conforme uns parafusos eram apertados, a dor percorria seus corpos. Em alguns casos era ainda utilizado um “berço de bruxa”, onde a pessoa era colocada num saco que era amarrado no galho de uma árvore. O saco era então chacoalhado e girado, a pessoa se sentia tonta e com náusea. Qualquer forma de tortura somente era interrompida quando a pessoa confessasse ser uma bruxa.
    Ilustração de uma das técnicas de tortura para identificar Bruxas
    Ilustração de uma das técnicas de tortura para identificar Bruxas
  • Não bastassem estes métodos, após serem forçadas a assinar uma confissão, era hora do julgamento. Geralmente as supostas “bruxas” eram condenadas à morte na fogueira, sendo queimadas vivas. Em alguns casos morriam estranguladas e seus corpos eram queimados até virarem cinzas.
  • Matthew Hopkins, um homem que se autoproclamou General Caçador de Bruxas dizia ter uma lista com os nomes de todas as bruxas da Inglaterra. Nenhuma mulher estava a salvo quando ele caçava bruxas. Ele as torturou e fez o teste da água para ver se elas boiavam ou afundavam. Ele mantinha suas vítimas acordadas por dias e se elas começassem a cair no sono, seus guardas as interrompiam, quando não mais suportavam aquilo, confessavam serem bruxas. Suas ações foram interrompidas em 1646, quando foi criticado por utilizar métodos cruéis e por cobrar preços muito altos pelo trabalho.
    Matthew Hopkins, caçador de Bruxas
    Matthew Hopkins, caçador de Bruxas


Caça às Bruxas: Fatos históricos

Clique na legenda do infográfico para vê-lo em tamanho real caso não consiga ler para conhecer alguns fatos que mancharam a história:

Infográfico: Caça às Bruxas
Infográfico: Caça às Bruxas

Ainda hoje corremos o risco de perseguição quando nos declaramos bruxos, pagãos e etc. Aos que perguntam “porquê?” isso ainda ocorre, a resposta é bastante fácil: nenhuma destas religiões pregam o amor. Elas se baseiam no sofrimento, na dor, no pecado e no castigo. Portanto, nada mais natural que seus seguidores espalhem estes sentimentos contra outras pessoas, contra os animais e contra a Natureza.


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